É por essa reverência à inteligência e por essa ternura cósmica que sou, sem hesitação, mais uma entre os milhões de "saganistas" espalhados pelo mundo. E talvez aí resida a essência silenciosa de sua obra: falar bem é, antes de tudo, permitir que o outro nos alcance. É tocar sem ferir, é reconhecer a bagagem que cada um carrega, os ritmos próprios, as cicatrizes e os lentos movimentos de transformação. A linguagem deve ser ponte, não trincheira.

A Flecha do Tempo garante que a matéria não retroceda, mas o Caminho de Volta garante que o espírito não se perca. Um fala do tempo, o outro do humano dentro dele. E entre ambos, um espaço: o intervalo onde habita a vida com toda a sua complexidade, e onde tudo passa, até a glória da ida. Vanitas Vanitatum, já dizia o profeta.

Essa dualidade não era divergência, mas complemento, dois lados de um mesmo fascínio que se tocam no equinócio: fenômeno astronômico que ocorre exatamente duas vezes por ano, em março e em setembro.